quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Pegadas

Ficaram as pegadas grossas cravadas nos grãos de areia fina...
Eu, vim fingir que o eco dos passos trémulos podem deixar marcas nos beijos que o mar concede ás ondas, no desmaio constante de espuma branca sobre o caminho dos homens.
Restaram traços difusos como resta o orvalho das madrugadas frias , como absoluta é em nós certeza de que a noite e o amanhecer são amantes que percorrem o mundo de maos dadas.

Eu, vim fingir que este farrapo solto de caminho é um trilho vitalicio na desmemoria infinita do universo e, fiz dele um momento único que imprimi religiosamente num retrato a preto e branco onde o azul do céu, o burburinho do mar, o voo sem rumo das gaivotas e o vento que me acaricia os cabelos, ficarao gravados para sempre.
Arrepia me o sossego do nada que nada mais inócuo pode haver do que o esquecimento que não retorna ás lembranças de quem apenas o nome irá um dia permanecer na historia desta breve passagem eterna...

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Vem...


Vem, não me deixes só nem que a meu lado fique o mundo inteiro.
Vem,abraçar-me na penumbra do arrependimento,
no compasso em que me embala o vento noctívago.
Eu vagueio em mim para te encontrar e em ti vagueio a procurar-me.
Vem,que a estrada que nos separa é mera estrada só
E seria fantasia se a saudade não fosse fria no seu percurso veloz.

Vem, não me deixes só ainda que a meu lado fique o mundo inteiro,
que o meu corpo arrefece no abismo dos lugares onde estão todos e não estando tu, eu ninguém vejo se não a ti.
Vem que o meu peito clama por um pedaço que é pouco
do pouco que ainda tenho junto de mim.

E é noite…e chove
E mistura se na vidraça o meu fôlego decadente
e a agua dormente de uma nuvem que morreu
E os meus olhos vagueiam sobre o mundo em busca de num minuto
ter um único segundo teu

sábado, 24 de janeiro de 2009

Liberdade (?) II


Basta-me saber que não sou livre para o desejar ser!
E fui de facto, antes de ver a luz do mundo.
Fui, antes de conhecer outras pessoas (sabe-se lá se tão revoltadas quanto eu, se tão resignadas como eu própria me vou mostrando).
Fui, antes de ser incluída na linha de montagem humana que não desrespeita o regulamento extenso e interminável...
Normas... Leis... Directivas... Procedimentos e burocracias para que nenhuma "peça" saia do ritmo desejado e caminhe na mesma forma mecânica em direcção a um fim inevitável, certo e anunciado.

Liberdade?
Basta me saber que jamais a possuirei para partir ao seu encontro!
E se eu recusar a estabilidade ilusória que domina a sociedade?
Se me libertar das correntes que me tornam escravas do sentido de dever, do bem e do mal e quebrar o muro invisível que limita a vida?
Ficarei á margem do socialmente correcto, do socialmente aceite...
Se for diferente sou incompreendida...
Se sou incompreendida sou indiferente
E ainda assim, ainda assim (!), ao julgar-me livre, de preconceitos estigmas e ignorância, não serei decerto...
Como livre nenhum de nós será jamais!

Liberdade?
Doce ilusão dos homens...
Ao menos que nos console a anarquia do pensamento!

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Carta á tristeza

Julgo ser difícil que me compreendas se o meu ser a meus próprios olhos se torna incompreensível tantas e tantas vezes.
Na certeza desta incerteza do que sou só a certeza do que fui e do que não serei jamais me deixam mergulhar no céu escuro da madrugada, esta casa que abriga a legitima insanidade dos meus sonhos.
Assim, á luz fraca de um candeeiro de verga transporto a dormência dos dias para a sombra de um sol brilhante e na fronteira entre o inverno eterno e esta luz que me abraça a alma, abandono finalmente o guarda chuvas invisível. Sou apenas alguém cuja alma, de tão grande, não cabe neste metro e meio de uma existência sentidamente sem sentido ainda descoberto.
Perdoa-me a ousadia que a mim própria eu jamais perdoaria não ter. A ti talvez um dia eu te perdoe a maldade com que me cortaste as asas e me tornaste não mais que um verme rastejante aos teus caprichos. A ti talvez te toque a perturbadora incerteza constante em que vivo nas poucas horas dignas desse nome. Por agora, peço que adormeças nos teus lençóis de lágrimas e que repouses o teu corpo gélido sobre os corações arrítmicos arrancados furiosamente às tantas vitimas tão vítimas de ti quanto eu…
Acalma me e deixa me ser livre e liberta do teu colo as palavras a que a minha mão quer dar forma, corpo e cor. A tua poesia, tristeza, para mim, nao tem mais sabor e ainda que de ti venham todos estes pedaços soltos das emoções que correm lado a lado com o sangue que me leva a vida, a vida das minhas palavras não mais quer ser filha da tua maldade.
Ainda que não me compreendas, que por falta de tempo não foi concerteza, eu acendi a luz fraca do candeeiro de verga e apesar do som da chuva que lava a cara do mundo, transportei a dormência dos dias para a sombra de um sol brilhante e na fronteira entre este inverno eterno e a luz que me abraça a alma, fechei o guarda chuvas invisível e deixei te á margem da madrugada que me abriga de ti na legitima insanidade que embeleza os meus sonhos.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Dream on girl

Sonho

O sonho é a realidade que habita a nossa imaginação.
É a vida vergada á vontade humana.
É a ânsia inebriante e incessante de uma conspiração talvez frutuosa de espíritos e pensamentos num olhar cúmplice.

O sonho é a realidade que fica do lado de dentro.
As quimeras que só aos olhos da própria alma se revelam e do seu próprio descontentamento se alimentam...
E crescem...
Até morrerem no sabor amargo de uma lágrima,
Nas palavras que ficam por dizer,
Nos gestos que não têm lugar,
Na espera longa e lenta numa estrada onde amiúde não passa o autocarro da esperança
Pois só quem sonha acredita no que só pode acreditar quem tem esse dom que é o sonho,esse dom bom que é saber sonhar!

sábado, 3 de janeiro de 2009

Monotonias

Afundo a mente na monotonia impressa nos dias
Nas vidas vazias
E aqueço as mãos frias numa chávena de café
Enquanto bebo a energia da vida
N uma vida que não o é.

Sorvo-o num instante
Tenho esta mania de gente
Esta ansiedade absurda e compreensível
De consumir num segundo
Tudo o que é curto e indivisível,

Mas são monotonos estes dias
De palavras vazias com sabor a café
E eu continuo com esta mania de gente...
De querer sorver num repente
O belo acaso que a vida é!