segunda-feira, 30 de março de 2009

Pela eutanasia (Let the people choose!)

Perdoa-me a franqueza,
a fraqueza (?)
de te querer fim
destino comum dos homens
não esqueças tu o que resta de mim
que a dor não é branda
nem abranda...
A dor é mulher má
é esta ferida corpórea que tresanda
a toda a ferida latejante que há

Perdoa-me o arrojo
Se é este o dia em que morro
e me confesso
dizendo que há muito desejo finar
Que morrer foi o que sempre pedi
Sem demoras...
Sem definhar!

Oh dignidade
Se nascer não foi opção
Que se cumpra
a minha mais lúcida vontade
Não é vida esta realidade!
De ser só corpo mantido em vão!

quinta-feira, 26 de março de 2009

(...)

Quantas noites mais caberão no breu infinito dos meus dias curtos em que só o brilho distante de possíveis estrelas me sossegarão destas tormentas intermináveis?
Quantas vezes mais me imolarei na espiral recta das lágrimas secas até sentir o sal fraco deste mar imenso que me banha o sangue, morrer nas montanhas agrestes da tua pele?
Duas mãos já não chegam para aparar as frescas cinzas petrificadas no aforismo dos acasos que me emudecem de frustração interior como se tudo fosse bonança nos trilhos já gastos dos meus e dos teus caminhos.
Quantas vezes mais terás de morrer em mim para em mim eu me ressuscitar e sentir viva (finalmente!) e não mais repousar no teu corpo o meu corpo deserto?
Diz-me apenas quantas vezes mais o abismo do teu lugar vago deixará em mim tal saudade e em delírio ficarei eu presa no mergulho profundo desse teu olhar azul, onde tudo se resumira a poesia, choro e esquecimento...

segunda-feira, 16 de março de 2009

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Saboreio a languidez latente dos teus olhos
e dispo a pele
que me repele os intentos
Sem lamentos me rendo,
tendo ou não tendo,
á prisão dos sentimentos.

Amparo em meus braços o desmaio dos teus
São pecados meus sem penitência possível
Mas sem lamentos me rendo
á confirmação do invisível

Ai de mim que corro e não fujo!
Ai de ti que te dás por prazer!
E no calor do meu corpo
deixas teu ávido corpo arder
no berço mágico de meu leito
do regaço do meu peito
que em teu peito quer morrer!

domingo, 15 de março de 2009

Abandono


Abandono-te
Abandono-me
Á margem pouso os despojos do tempo que ainda resta.

Perdão!
A urgência de mim a isso obriga
e sei-o ainda que não esteja
sóbria,lúcida ou consciente
mas a urgência de mim exige-me tal pressa premente.

Estou livre...
E leve...
Tudo é breve
E estou só...
Sem mim.
A exaustão abranda me desta tormenta sem fim

Afinal,
anseio,
suspensa nas imagens estáticas de outrora,
as noites sem aurora,
(ainda os meus sonhos eram crianças)
De sentir os teus dedos finos brindarem me de novo com esperanças


Pois...
Mesmo em pranto,
Ao som da chuva feroz
Mato
Morro
Ressuscito
E agora sou eu
Não tu
Só eu
Não nós!

Para ti

Adormeço relutante,
dividida entre a insónia e o sono,
entre a consciência débil e a semi-inconsciência quase profunda,
os únicos refúgios razoáveis para onde parto fugindo á frieza extrema desta pequena cama vazia.
As esparsas alegrias que me concedeste transformaram-se em pequenos e minúsculos pontos negros emergentes á indiferenciável luz da escuridão como se o rasto marcante daquela era estivesse tatuado sobre a minha pele e, o teu cheiro, as tuas cores, os teus pequenos olhos negros fossem memórias indeléveis de uma paixão que existe e tão pouco chegou a nascer.

E escrevo…
Procuro nas infindáveis páginas dos velhos dicionários as palavras procurando te a ti sobre as letras já sumidas, procurando-te aqui e ali… tão só um pouco mais perto.
E escrevo, palavras ocas, meros rascunhos que não são meus nem teus nem deste fogo imenso que me gela a memória e o calor dos beijos dos quais, talvez, só em meus lábios o toque dos teus tenha permanecido eterno.
Quiçá, sob a aspereza dos dias mudos me entendas e abraces na madrugada em que me encontro.
Quiçá a aurora dos dias longos nos desnude as miragens ou então só as minhas incontáveis fantasias que me dirigem constantemente, serenamente ao tactear exaustivo de um relógio cujas horas não mais existem desde que te “foste”.
Somente te queria falar de tudo aquilo que a meus olhos existe em ti.
Somente te queria falar dos sorrisos, dos abraços, dos pequenos momentos a quem demos vida, dos corpos alados que hoje somos e sobre os quais os cacos de um coração só derrama um imenso tanto de saudade.
Repara como falo, cheia de dúvidas incertas e como bailo ao vento das letras sem rumo, definhando na busca de comparações absurdas mas justificadas...
Repara como te abro sem reservas as portas do meu coração para que faças dele a tua casa de alicerces inabaláveis, o teu porto seguro em todas as horas de tempestade desejando devotadamente que em troca me dês apenas e só a chave que abra em ti uma casa e um porto iguais a estes que te ofereço em nome de um sentimento recíproco que, a ter fim, morra de velho num lugar chamado sempre…


Para ti...(2006)