terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Viagem

Existem dias que não são dias.
Nem dias nem noites.
São bocado soltos de tempo em que não estou acordada nem a dormir,
em que existo minuto a minuto,
crua como uma folha de papel em branco.
Estou e não sou.
Apenas dentro do castanho dos meus olhos,
da coberta pálida da minha pele,
dos meus escravos caracóis negros
se pode sentir a dormência da minha essência retorcida
como um eremita bicho-de-conta
que não é da conta de ninguém.

Escolho,sem escolher efectivamente, a solidão
ou seja lá o que for esta vontade de estar em mim sem mim,
de costas voltadas para o que a vida desvenda e encerra
com um sentido de oportunidade notável.
Tal e qual o guarda-chuva que se esquece em dias de meteorológicas tormentas
e o que se traz teimosamente
quando as nuvens não se desfazem em rudes dilúvios lacrimais.

Existem estas invasões súbitas,
sem pedido de licença.
Ques com porquês,
porquês com para ques...
O que
Não estou.
Não sou.
Não hoje.

Já que chegaram sorrateiras,
as visitas indesejadas que se acomodem ou desacomodem.
Não estou longe nem perto de tudo e de ninguém
e demoro quase sempre muito nestas breves reticencias longas,
diz-se...
Mas há dias em que finjo morrer
para que se de enfim,
pela minha existência passiva.

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