quarta-feira, 15 de julho de 2009


Mostra-me as cores do arco-íris
no voo picado de um breve beijo eterno.
Nada mais te peço que essa partida e essa chegada.
Nada mais quero que essa meta e essa viagem
e um copo de vinho a embriagar-nos os sentidos.
Dança comigo o tango improvisado,
a voluptia escarlate pulsando do meu regaço
e ensina-me os passos tontos sem latitude,
o abrupto rodopio dos corpos.

Dialogos mudos...
Nada de palavras...
Um monologo a dois
que a carne sara lenta
e o tempo está adormecido...

Quero nada mais que um minuto,
um beijo,
outro fôlego
e brincar ao faz-de-conta,
á cabra cega,
ao toque sem rumo,
ao tacto sem direcção.
Quero nada mais que vaguear na rua de um país qualquer,
provar o sol,
a acidez insípida da chuva e,
de mãos dadas,
ainda que mutilada a minha voz,
poder contar-te baixinho
sobre esta certeza de que te amo!

sábado, 11 de julho de 2009

Versos a Deus

Escrevo versos a Deus
deste inferno em que vivo
onde há crianças esquecidas
á procura de abrigo
sobre o céu estrelado
e os braços do luar
a infância perdida
na procura de um lar.
Um tecto...
Um afecto...
Ninguem pára nem repara
e a porta fecha em vez de abrir,
escrevo versos deste inferno com as lágrimas a cair!

Vejo a fome e a fartura
caminhando de mãos dadas
bocas famintas,palavras sucintas
a inanicão silenciada e
os rostos sem emoção,
clamando por piedade
numa fatia de pão.
Escrevo versos a Deus deste mundo sem coração...

Onde há balas perdidas,
mulheres violadas,
genocídios sangrentos,
vidas roubadas
no cano de uma espingarda,
na ponta de uma faca fria,
a maldade sem tréguas,
a guerra vazia
e mora ao nosso lado
a ambição desmedida
por bens materiais,
que importam as injustiças cometidas,
o sofrimento dos demais?

Escrevo lamentos sentidos
Escrevo lamentos a Deus
deste inferno inaudito
ás portas do céu...

Já não sei...

Já não sei das horas,não tenho tempo
e os relógios pendem abandonados das paredes cálidas
como folhas mortas ao vento de Outubro,
como gotas de chuva nos beirais dos meus olhos sem horizonte.

Calendários raros...
Dias incertos
condensados nas incontáveis folhas virgens
de um diário nunca antes escrito
e eu,
sem saber dos dias,
vejo partir em cada comboio o meu sonho
para parte incerta
fico deserta sem saber de mim,
imprimo ao acordes guitarra,
elegias inenarraveis do meu eterno fim

Pois já não sei do tempo
e o tempo é tão vital
Mas quem não sentiu já na vida,
a morte tão viva afinal?

Rara a tua tez rosada á luz trémula das velas,
tão rara quanto as tuas mãos impacientes
e o sussurro rouco de um velho rádio
á mesa posta do nosso amor.

Tão poucas vezes senti em ti fome de afecto,
de beijos sentidos
e os teus cinco sentidos á espreita
na esquina do teu coração fechado
fechando em meus poros desejos inconfessáveis.

Amiúde, foram sangrentas as nossas batalhas
e o sangue fresco derramado por dentro,
a guerra incessante, sem vencedor ou vencido,
a luxuria marginal,
a repressão decrepita das minhas vontades ás tuas,
por isso,
raro sei esse teu súbito desejo.

Porquê?
Porquê nómadas as tuas mãos ao meu corpo imberbe que ferve?
Porque agora, a esta hora tão tardia nas ruas sem gente e a gente vazia?

Acorrentas a teu corpo o meu coração
com a devassidão que te atinge...
Tão rara essa paixão..
Mas apressa-te,antes que a magia finde!!

Depois de ti

Á noite,
no portal da minha porta,
fico a esperar.
Gela-me o vento e nem o sinto.
Sabes...
Ainda pressinto
que voltas para me abraçar

Parece-me ouvir teus passos
Ver a sombra dos teus braços
como fazes ao despedir
E agora a noite é fria,
sopra mais a ventania,
começa a chuva a cair.

Ainda á pouco foste embora
e ja a saudade mora
no lugar que tu deixaste
E entao eu fico a cismar
e finalmente a sonhar,
sentindo que tu voltaste!


1999