sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

' Há sempre uma pequena chama que permanece acesa,
um foco que sobrevive e morre
consumindo-se a si e em si
quando o maior fôlego do fogo se extingue...'

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Que paz

Passeio os olhos mortiços ao longo do mar salgado onde bóiam cadáveres fantasmas na espuma das ondas negras e duas gaivotas bicam,famintas,o espelho sanguinário da minha batalha
revolvendo estilhaços inertes ancorados as rochas.
Passo indiferente á névoa claustrofóbica que vigia o horizonte onde se adivinham anjos negros entoando elegias,rindo da naufraga bandeira branca amordaçada nos corais cristalinos das águas turvas.
Cega,passo a pé,sem pressa,pelos túmulos remexidos,
pelo cemitério das velhas embarcações que emergem,
imponentes,
dos grãos da areia escarlate,
como livros que contam lendas de heróis e conquistadores e,
lanço ao halo do meu tornado interno,perguntas trágicas,
indiferente ás balas que acariciam o corpo profanado da minha guerreira adormecida.
Aqui,no entanto,o vento cruel,rejeita pontos de interrogação,
qualquer resposta,
qualquer som brusco que irrompa fatalmente o sepulcral silencio da paz.
Enclausurada,vejo estender-se a meus pés a calmaria aparente e prossigo,
despojada de espírito,
sem destino,
sem uma única vaga de liberdade que me permita enfim,soltar o grito de socorro que agoniza algemado a rouquidão terminal das minhas cordas vocais contorcidas e mudas.
Paz...
QUE PAZ

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010


Life is a tragedy for those who feel, and a comedy for those who think.

La Bruyere

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010



É na névoa do inverno,
quando a chuva alaga as estradas do mundo deserto
que a tua ausência mais me dói
reavivando impiedosamente a ferida sufocante de quando não estás,
essa ferida que adormece e acorda
sempre que chegas e partes,
que não sara nem cura e abandona,
nas mãos da mais tirana saudade,
a visão delícia dos corpos exaustos que ainda ontem,
a esta hora,
se incendiaram e extinguiram.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Oiço passos ao anoitecer,
sinto o corpo estremecer
no calor da escuridão.
Estão fantasias despertas,
as minhas chagas abertas
no negro colo da solidão.

E estes versos que escrevo
são destas quimeras perdidas
as tormentas esquecidas
do amor que não vem,
por medos incertos,
em poemas dispersos,
que há muito não lê ninguém.

Não sei por quem sinto então este ciúme,
por quem o queixume
que pulsa em cada veia,
se nos braços do amanhecer,
sinto a chama desvanecer
na paixão que não se ateia.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Tudo é foi

Fecho os olhos por instantes.
Abro os olhos novamente.
Neste abrir e fechar de olhos
já todo o mundo é diferente.

Já outro ar me rodeia,
outros lábios o respiram,
outros 'aléns ' se tingiram
de outro sol que os incendeia.

Outras árvores se floriram,
outro vento as despenteia,
outras ondas invadiram
outros recantos de areia.

Momento,tempo esgotado,
fluidez sem transparência.
Presença,espectro da ausência,
cadáver desenterrado.

Combustão perene e fria.
Corpo que a arder arrefece.
Incandescência sombria.
Tudo é foi. Nada acontece.


António Gedeão - in Poesias Completas

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Reflexões




Não há maior dor do que a que habita em segredo todo o espaço da alma,
toda a área do coração e que ocupa a casa dos pensamentos
e os terrenos pantanosos da vida.
Não há então maior ferida que esta multidão agitada e inquisidora que não se revela nem manifesta mais por deliberada ignorância e condescendência do egoísmo humano
do que por vergonha de quem nela encontra o derradeiro sinónimo da palavra tristeza.