sábado, 7 de maio de 2011

Foste embora mas ficaste…
Como uma sombra…
Como a própria sombra da minha,
Como uma lembrança constante
Dos sonhos que não realizamos,
......Das promessas que não cumprimos…
Uma sombra
Reflectida no passeio,
Nas paredes das casas
Por todos os lugares onde passo
Em todo lado onde vou
Tentando ignorar que estas presente
Já só para esquecer que és passado.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Pus o meu sonho num navio


Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.


Cecília Meireles

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A hora do cansaço

As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.

Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.

Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nós cansamos, por um outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.

Do sonho de eterno fica esse gosto ocre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010


Só existem duas formas de descrever o vazio...deixando em branco todas as folhas ou gastando em vão todas as palavras.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

'Já é noite, o frio está em tudo o que se vê
lá fora ninguém sabe que por dentro há vazio
porque em todos há um espaço que por medo não se deu
onde a ilusão se esquece do que o medo não previu.

Já é noite o chão é mais terra pra nascer
a água vem escorrendo entre as mãos a percorrer
todo o espaço entre a sombra entre o espaço que restou
para refazer na vida no que o medo não matou...'


Tiago Bettencourt - O lugar

quarta-feira, 23 de junho de 2010




Os meus pensamentos,noctívagos,atropelam a escuridão.
Não há forma alguma de conciliar o sono quando tudo o que se escuta são os ruídos destes embates tardios na mente.
Ás vezes silencio...
Outras,vozes...
Ecos de outras eras que revejo ,vezes sem conta,em câmara lenta,
querendo viver de novo,
sorrir de novo,
sentir de novo...
Há em mim a pressa de voltar a um lugar qualquer onde ainda esteja de quem eu me perdi,
para que eu possa encontrar
quem de mim se perdeu.

Enjoy the Silence

segunda-feira, 14 de junho de 2010


Encontrei-a só, quase despojada de vida.
Jazia na berma de um sincronizado e atrevido pulso que lhe invadia de sangue e tingia de rubor a palidez imaculada que sempre lhe vira estampada no rosto.
Encontrei-a ali,quase asfixiada por um corpo moribundo de cujas órbitas desabitadas,velhas tormentas expeliam um maremoto de lágrimas que,de outra forma,não teriam sabido escapar.
Éramos apenas nós sobre o negro cerrado que espreitava por entre a copa frondosa das árvores e o silencio sepulcral da selva á hora da sesta,por isso,estranhei-lhe a desordem nos cabelos num dia macambúzio e quieto,sem brisa nem vento.
Nela sempre existira uma certa vaidade...A simetria nos detalhes,o risco ao meio numa linha perfeitamente recta...Achei então por bem devolver á antiga glória os desgrenhados fios capilares que se estendiam diante das minhas mãos e,desafogadamente,ajeitei-os.
Foi quando,do fundo de um momento de azáfama tão raro,tão meu,ela se erguia desenhando nos lábios apagados o mais frívolo e volúvel sorriso,desferindo-me no ego uma colossal e ilógica exasperação que punha a nú tudo o que julgava saber de mim...

To be continued

quarta-feira, 28 de abril de 2010




Salvador Dalí - Sonho Causado Pelo Vôo de Uma Abelha em Volta de Uma Romã, Um Segundo Antes do Despertar

sexta-feira, 23 de abril de 2010

You are welcome to elsinore

Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte,violar-nos,
tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo.
Entre nós e as palavras há perfis ardentes,
espaços cheios de gente de costas,
altas flores venenosas,portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício.

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição.
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor.
E há palavras nocturnas palavras gemidos,
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar

Mário Cesariny

sexta-feira, 26 de março de 2010

If our world...


If our world has nightward turned,
I shall ask the shuttered doors
For all that has been burned
In the fire of the silent hours.

The shadows now surrounding
Reply with distant echoes,
Muted voices igniting
The pain that,like water,flows

We harbour this illusion
Tides of invisible sea,
Grown lonely as it darkens
In this night that none can see.

The secrets of tears and hours
Where waves and rock are churned
Where once a country perished
If our world has nightward turned.

in'DRAMA BOX'

quinta-feira, 25 de março de 2010


Somos feitos de cinza
quando o pano negro do firmamento cai sobre o fulgor desmaiado dos dias.
Feitos de lava e suor
quando o vulcão mortífero ceifa,em êxtase,
a avidez indomável das horas eternamente efémeras
em que a constância de ambos os passos se sustiveram
e a infinidade dos sentidos se inspiraram e expiraram.
Mas é só quando a ebulição sádica onde sacrificámos a perversão do espírito
se fragmenta e adormece,que colidimos com o vazio e nos tornamos o abismo
quando tudo o que fica,fica deserto.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Divagações II

Durmo nas noites claras,nas dormentes insónias litigiosas que me desassossegam os meandros da consciência.
Estou sem paciência para ser conveniente e as beatas acumulam-se,uma a uma,nas bordas sujas de um cinzeiro roubado por nada numa casa de putas onde se vendiam,comprando,um bando de desgraçados a cheirar a perfume caro.
Afogo os pensamentos no canto de outras eras,no início de um século que findou,nas cigarrilhas,nos cabarets. Ah charme luxurioso que só meia dúzia de mulheres traz hoje impregnado na pele que a sensualidade não se adquire como se adquire meio quilo de peito ou uma peça de roupa em saldos.
Mas eu gosto de deambular pelas ruas labirínticas da vida e rir,sem culpa,do desfile caótica de tais camelos,da dança vaidosa e tortuosa dos saltos altos na calçada gasta.
Gosto de navegar á deriva neste rio sem leito e sem curso e encontra-los á beira de charcos saciando a mediocridade em caravanas zombies de onde medram superficialidades colectivas e as rugas áridas sufocam debaixo de uma camada pastosa de vergonha.
Tais embaraços que são face aos intelectos subdesenvolvidos,diante dos imperativos da vida adiados em pontos de interrogação sem retorno amotinados no consumismo a que vendem as almas sem identidade,os eus indefinidos á procura do próprio espírito nos convenientes pergaminhos ancestrais diluídos em Toras,Corões e Bíblias que Deus,Esse,tem bem mais que fazer.
Ópio legal,valha-nos isso,miragens...
Adiante que chego já a estar confusa com este aglomerado de palavras que nada disseram de útil ou que, na sua inutilidade incontestável,a quem não sabe ao que escrevo,não interessam de todo.
Críticas...
Ainda assim criei á volta do meu ocioso ser uma azáfama de papel e rascunhos amontoados na minha secretária poeirenta que as críticas,essas,também se ensaiam.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Sublinham-se afectos remotos na clarividência das entrelinhas
onde as dissidências da linguagem repousam e delas
fazem berço as palavras que derivam do que sente e não se sabe dizer.
Reinventam-se então,á toa, metáforas circunstanciais,
comparações tresloucadas sobre o núcleo secreto que não se revela e
todos estranham,ficando preso a nós o âmago singular desta ebulição constante,
intacta e íntegra.
Nenhum poema é inútil ou estéril porém...
Nem sílaba alguma é oca ou seca desde que exista um propósito que os versos,conhecendo,não sabem personificar.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

' Há sempre uma pequena chama que permanece acesa,
um foco que sobrevive e morre
consumindo-se a si e em si
quando o maior fôlego do fogo se extingue...'