quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Fome

Nunca extinguiste a minha fome.
Nem as minhas insónias.
Antes as alimentaste.
As minhas insónias
que a fome nunca extinguiste.

Presumo que ignores o burburinho do meu vazio.
Nada são os gomos que me dás,
a mísera esmola que me deixas sempre que vens,
nunca quando te espero.

Sento-me á mesa muitas vezes
e converso com os pratos vazios,
bebendo vinho branco
sem receio da esquizofrenia á hora das refeições
como se a fuga deliberada de um apetite mutilado
me equilibrasse quando me remexo
na gravidade inerte da nossa casa solitária.

Que é do fruto sagrado que me prometeste inutilmente´um dia...
Para onde migraram as palavras doces com laivos de poesia...
Sabias me faminta e,
sem pingo de misericórdia,
enganaste o meu paladar.
Mas eu nunca te pedi nada do tanto que queria
senão que não me abandonasses nos campos inférteis,
nas planícies mal lavradas.

Nunca extinguiste a minha fome,
a única condição que te impus humildemente
e,
toda a sede de te adorar esgotou-se.
Como um campo em pousio que ás mãos do lavrador
não lembrou jamais.

Sem comentários: