domingo, 15 de março de 2009

Para ti

Adormeço relutante,
dividida entre a insónia e o sono,
entre a consciência débil e a semi-inconsciência quase profunda,
os únicos refúgios razoáveis para onde parto fugindo á frieza extrema desta pequena cama vazia.
As esparsas alegrias que me concedeste transformaram-se em pequenos e minúsculos pontos negros emergentes á indiferenciável luz da escuridão como se o rasto marcante daquela era estivesse tatuado sobre a minha pele e, o teu cheiro, as tuas cores, os teus pequenos olhos negros fossem memórias indeléveis de uma paixão que existe e tão pouco chegou a nascer.

E escrevo…
Procuro nas infindáveis páginas dos velhos dicionários as palavras procurando te a ti sobre as letras já sumidas, procurando-te aqui e ali… tão só um pouco mais perto.
E escrevo, palavras ocas, meros rascunhos que não são meus nem teus nem deste fogo imenso que me gela a memória e o calor dos beijos dos quais, talvez, só em meus lábios o toque dos teus tenha permanecido eterno.
Quiçá, sob a aspereza dos dias mudos me entendas e abraces na madrugada em que me encontro.
Quiçá a aurora dos dias longos nos desnude as miragens ou então só as minhas incontáveis fantasias que me dirigem constantemente, serenamente ao tactear exaustivo de um relógio cujas horas não mais existem desde que te “foste”.
Somente te queria falar de tudo aquilo que a meus olhos existe em ti.
Somente te queria falar dos sorrisos, dos abraços, dos pequenos momentos a quem demos vida, dos corpos alados que hoje somos e sobre os quais os cacos de um coração só derrama um imenso tanto de saudade.
Repara como falo, cheia de dúvidas incertas e como bailo ao vento das letras sem rumo, definhando na busca de comparações absurdas mas justificadas...
Repara como te abro sem reservas as portas do meu coração para que faças dele a tua casa de alicerces inabaláveis, o teu porto seguro em todas as horas de tempestade desejando devotadamente que em troca me dês apenas e só a chave que abra em ti uma casa e um porto iguais a estes que te ofereço em nome de um sentimento recíproco que, a ter fim, morra de velho num lugar chamado sempre…


Para ti...(2006)

Sem comentários: